Estudos de um geólogo sobre os eventos em 3 Néfi
Para os cristãos e todos que se interessam por histórias de fé e fenômenos naturais, o Livro de Mórmon apresenta um relato impressionante. Nos capítulos 8 a 10 de 3 Néfi, lemos sobre uma série de catástrofes avassaladoras que marcaram a morte do Salvador.
Imagine o cenário: os povos nefitas e lamanitas testemunharam “tempestades, tormentas, trovões e relâmpagos; tremores de terra; cidades que se desfaziam, ardiam ou afundavam no mar; rodovias e a própria terra se rompendo; rochas se quebrando e sendo espalhadas; uma escuridão que podia ser sentida; vapores de fumaça; a incapacidade de acender fogo ou fazer luz; e uma mudança em toda a face da terra”.
Esses eventos iniciais em 3 Néfi se desenrolaram por três longas horas, seguidos por três dias de uma escuridão palpável.
Do ponto de vista da fé, não é essencial buscar uma explicação científica para como Deus realizou esses feitos. Contudo, é fascinante notar que “todos esses fenômenos foram observados em conexão com um tipo específico de evento geológico: uma erupção vulcânica massiva e explosiva”.
Em artigo publicado na BYU Studies Quarterly, o geólogo Bart J. Kowallis apresenta fatos interessantes sobre os eventos descritos em 3 Néfi.
Bart J. Kowallis analisou os detalhes do relato em 3 Néfi. Para ele, a variedade de acontecimentos e os locais atingidos indicam um “evento de grande escala” — surpreendentemente compatível com “um único tipo de desastre natural”.

Conexões entre mudanças na face da terra e os eventos em 3 Néfi
Um dos pontos mais impactantes do relato é a afirmação de que a “face de toda a terra mudou”. No entanto, o próprio artigo mostra que, ao lermos com atenção, percebemos que o Livro de Mórmon não descreve uma reconstrução completa da geografia fundamental da terra.
A expressão “toda a face da terra” ou “face da terra inteira” não deve ser entendida como o planeta inteiro. Registros históricos confirmam que “nenhuma destruição em massa desse tipo ocorreu na região do Mediterrâneo, Ásia, Europa ou Oriente Médio naquela época”.
O autor do relato, Néfi, provavelmente se referia à “sua terra inteira ou toda a terra que era conhecida e habitada pelos povos do Livro de Mórmon”.
A geologia não oferece suporte à ideia de que todas as características topográficas de dois grandes continentes tenham se formado nesse período.
Ao considerar um cenário mais limitado — com algumas centenas de milhas de extensão — a destruição descrita em 3 Néfi se torna mais compreensível e cientificamente plausível.

Exemplos de erupções ao longo do tempo
As descrições de paisagens após grandes erupções vulcânicas ilustram a magnitude dessa transformação. Por exemplo, após a erupção do Monte Vesúvio, Plínio, o Jovem, relatou que ficaram “aterrorizados ao ver tudo mudado, profundamente enterrado em cinzas como montes de neve”.
Em 1980, a erupção do Monte St. Helens, em Washington, transformou cerca de 251 km² em uma paisagem estéril, que muitos descreveram como uma “paisagem lunar alienígena”.
Uma erupção violenta pode transformar um vulcão de um pico imponente em um “toco enegrecido, despojado de folhagem e irreconhecível”.
Grandes depósitos de cinzas podem cobrir tudo, “lançando um manto fantasmagórico sobre toda a cena, matando a maioria da vegetação e criando a sensação de uma paisagem nova e alienígena”.
A erupção do Monte Pinatubo, na ilha Luzon, Filipinas, em 1991, soterrou uma base aérea tão profundamente que as autoridades decidiram abandoná-la, e o desastre desalojou milhões de filipinos — um evento que verdadeiramente “mudou toda a face da terra”.

Os eventos em 3 Néfi 8 e as erupções vulcânicas
Os acontecimentos narrados em 3 Néfi são “numerosos e específicos”. Uma análise mais detalhada mostra que “cada um desses eventos foi documentado em erupções vulcânicas explosivas históricas”:
Grandes tempestades, vendavais e tormentas – 3 Néfi 8:5-6
“Grandes erupções vulcânicas são frequentemente acompanhadas por ventos violentos e tormentas”. Isso ocorre devido ao movimento de nuvens de cinzas vulcânicas, seja “abraçando o solo como nuvens quentes, rápidas e enormemente destrutivas chamadas nuees ardentes” ou como “nuvens de explosão movendo-se em velocidades ainda mais altas”.
Os especialistas estimaram que a explosão do Monte St. Helens teve quinhentas vezes a potência da bomba de Hiroshima, e sua nuvem de explosão se moveu a “mais de 483 quilômetros por hora”..
Testemunhas relataram ventos que “sopraram árvores centenárias como palitos de dente”. Na erupção do Monte Pelée, na Itália em 1902, “paredes de cimento e pedra com um metro de espessura foram despedaçadas como se fossem de papelão”.
O calor concentrado das cinzas gera correntes de ar ascendentes, o que torna comuns as tormentas semelhantes a tornados. A erupção do Tambora, na Indonésia em 1815, por exemplo, gerou tormentas que “levaram homens, cavalos, gado e tudo o mais que estivesse sob sua influência para o ar”.
Tremores de terra – 3 Néfi 8: 6-7
O “tremor de toda a terra” é uma característica fundamental da atividade vulcânica intensa. Cidades queimadas, afundadas ou soterradas: O relato descreve cidades como Zaraenla sendo incendiada, Morôni afundando no mar e Moronia sendo coberta por terra.
No artigo de Kowallis, lemos que “deslizamentos de terra e fluxos de lama vulcânicos podem também alterar significativamente o terreno, criando colinas e cumes onde vales e planícies existiam anteriormente”.
Tsunamis gerados por erupções podem varrer cidades costeiras, como aconteceu com o Krakatoa, na Indonésia, em 1883. Um sobrevivente descreveu a cena: “não havia destruição, simplesmente não havia nada”.
Escuridão palpável, fumaça e ausência de fogo 3 Néfi 8: 19-22
A “espessa escuridão que podia ser sentida”… e a “impossibilidade de acender fogo”… são compatíveis com “nuvens densas de cinzas vulcânicas e vapores de fumaça”.
A cinza vulcânica pode bloquear a luz solar por dias. Lendas da Papua-Nova Guiné falam de “‘’três noites’ de escuridão total onde ‘as tochas não iluminavam o lugar’”.
Uma antiga estela egípcia, possivelmente relacionada à erupção de Santorini (c. 1500-1450 a.C.), descreve “o céu se desencadeando sem cessar… enquanto uma tocha não podia ser acesa nas duas terras”.
A menção de “madeira muito seca”… também é um detalhe importante, pois as tempestades vulcânicas, diferentemente de furacões, são frequentemente secas, com a cinza impedindo a chuva.

Tipos de vulcões e localização geográfica compatível
Kowallis, também escreve que as erupções vulcânicas capazes de explicar os eventos em 3 Néfi não são as erupções mais brandas dos “‘vulcões em escudo’ (como no Havaí)”. Mas sim as erupções violentas e explosivas de “estratovulcões”.
Esses se formam em “zonas de subducção, onde as placas tectônicas colidem”. Nesses vulcões, o magma é “espesso e viscoso, contendo muitos gases que se acumulam, fazendo com que o vulcão ‘exploda em uma fúria avassaladora’”.
Se, como a maioria dos estudiosos do Livro de Mórmon acredita, o povo vivia na região do sul do México ou na América Central, eles estariam “vivendo em uma zona muito ativa de vulcanismo explosivo”.
Os especialistas classificam esta área — onde as placas tectônicas norte-americana e de Cocos se encontram — como a “região vulcânica mais produtiva da Terra”.
Embora os povos do Livro de Mórmon pudessem ter presenciado erupções menores ao longo de sua história, a destruição descrita em 3 Néfi foi uma “erupção de grande proporção, difícil de ignorar em um registro histórico”.
Exemplos de erupções recentes nessa região incluem o El Chichón, no México, em 1982; o Cerro Negro, na Nicarágua, em 1968; e o Cosiguina, na Nicarágua, em 1835.

A precisão do relato e o contexto de Joseph Smith
Aqueles que duvidam da veracidade do Livro de Mórmon poderiam questionar se Joseph Smith, o tradutor do livro, simplesmente copiou descrições de erupções vulcânicas de outras fontes.
No entanto, “o relato é notável por seus detalhes e precisão”. Em 1830, quando Joseph Smith publicou o Livro de Mórmon, os cientistas ainda estavam começando a estudar geologia e falhavam em compreender ou registrar bem os vulcões.
Portanto, as descrições disponíveis na época eram “incompletas e não incluíam todas as características encontradas no relato do Livro de Mórmon, características que hoje são conhecidas por ocorrerem em grandes erupções explosivas”.
A erupção do Tambora em 1815 marcou provavelmente a mais espetacular da história recente, mas quase ninguém a relatou na época em que aconteceu, e os relatos detalhados ainda são raros.
Mesmo as poucas descrições existentes, não mencionavam características específicas do relato de 3 Néfi, como relâmpagos, nem a incapacidade de acender fogos. Assim, esse fato sugere que um jovem sem instrução na época dificilmente teria acesso ou compreensão dos detalhes que o relato do Livro de Mórmon apresenta.
Conclusão
Embora a fé no Livro de Mórmon não dependa de evidências físicas, é enriquecedor ver como os eventos descritos em 3 Néfi se alinham com princípios geológicos e testemunhos históricos de erupções vulcânicas.
A análise de especialistas, como a do geólogo Bart J. Kowallis, indica que as catástrofes descritas foram provavelmente um evento geológico massivo e localizado — algo raro, mas cientificamente plausível e já observado em diferentes momentos da história.
Para os que creem, o mais importante é que esses acontecimentos realmente se deram, conforme profetizado.
Ainda que a fé não dependa da ciência, é bom saber que os detalhes desse relato fazem sentido também do ponto de vista científico. Isso nos ajuda a ver como fé e conhecimento podem andar juntos — cada um com seu papel, sem que um precise do outro para ser verdadeiro.
Fontes: BYU Studies Quarterly, ChurchOfJesusChrist.org
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